Garagem

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Fagulha

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas 
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas 
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria 
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria 
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia 
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.



Ana Cristina César