numa espécie de turpor.

Por vezes, não conseguimos viver com aquele que amamos - e por ele perderíamos tudo, incluindo a razão.
Vive-se sozinho, meio acordado, numa espécie de torpor. E no interior das pálpebras fazemos aparecer o rosto amado.
Gostaríamos que estivesse aqui, ao alcance das palavras que reinventamos para lhe sussurrar, ao alcance da mão e da boca, ao alcance dos sentidos e do desejo imediato.

Al Berto, 'Do Ardor da Paixão à Morte no Poema'. 
Dispersos, 2007

O Sentido do Fim - Emoções

Quando somos novos - quando eu era novo - queremos que as nossas emoções sejam como as que conhecemos de ler nos livros. Queremos que nos virem a vida do avesso, que criem e definam uma nova realidade. Mais tarde, penso eu, queremos que façam uma coisa mais suave, uma coisa mais prática: queremos que amparem a nossa vida como ela é e como passou a ser. Queremos que nos digam que as coisas estão bem. E há nisso algum mal?

Julian Barnes
O Sentido do Fim
Quetzal
2011

 

O Sentido do Fim - A Memória

Vivemos com suposições tão fáceis, não vivemos? Por exemplo, de que a memória é igual aos acontecimentos mais o tempo. Mas é tudo mais acidental do que isso. Quem foi que disse que a memória é aquilo que pensávamos ter esquecido? Para nós devia ser óbvio que o tempo não actua como fixador, e sim, como dissolvente. Mas não é conveniente - não é útil - acreditar nisso; não nos ajuda a seguir com a nossa vida; por isso ignoramo-lo.

Julian Barnes
O Sentido do Fim
Quetzal
2011