'agora que nenhum esquecimento basta'


O Sr. Vinho fazia apenas mais
um ano do que tu. São coisas que
acontecem, tão exactas e por vezes

belas como a tristeza de saber
que "tudo aquilo que hoje
existe/um dia há-de morrer".

Aquele corpo, de olhos fechados,
pedia com as mãos que não
o fotografassem essa noite,
sujando uma alegria que até na dor
prevalece e ficou, durante alguns
segundos, encostada aos nossos ombros.

Só quando ouviram "Ai Meu Amor
se bastasse" as pedras de gelo
aceitaram desfazer-se no meu copo,
muitos anos depois de termos gasto a morte:
agora que nenhum esquecimento basta
e se reacende, todavia, a vela frágil do amor.


Manuel de Freitas,
TEACHER WAS HERE, 
2009