hoje sei como se perde a noite.

O coração assemelha-se
a quanto posso perder
- tudo - junto a ti.
Sob o sinal de anos pretéritos
a sós com o meu olhar
a colecção das nossas perdas
ganha um involuntário valor
sobre estes dias.
Adere a cada hora
um significado como uma forma
de gravidade sobre o tempo.
 
Hoje sei como se perde
a noite e nela a vida; como se
decompõe entre a luz e a sombra
onde um corpo espera.
 
Não é a ausência, tão-só o amor
quem faz esta vigília, esse excesso
que é também abreviatura
e aqui termina.
 
 

Rui Miguel Ribeiro, XX Dias, Averno, 2009