De literalmente aturar
atura a minha literatura
estar entre toda a Literatura que há até hoje e houve
e literatura nenhuma.
Se é surrealista ou não em suma
não sei responder.
Se ela é existencialista
por exemplo que sei eu
entre os franceses por exemplo
dos franceses
André Frénaud
e os esquizofrénicos de Paris
do frio
o frio
não me deixa se calhar ser.
Que eu tanto canto
a existência do frio como do calor
a existência do Verão e do Sol
como da chuva e do Inverno
eu canto qualquer coisa
eterno provedor da minha república
só interior de cantar.
Senão, ó bela, é instaurarem-me
um processo que não dá para o petróleo
cole-o o tempo ao ramo
o amo ao cavalo
que exprimo e falo de mim primeiro
primeiro de mim
depois e só depois dos outros sim
e entre os dois enfim
ganhar qualquer coisinha
para a espinha que dói muito a escrever
senão é ver.
Beber umas coisas
e se ela noutra arte pousar
e cá isso de surrealista ou existencialista
não o sei ainda que a mim não mo disseram.
Só considerar isso das duas coisas.
À parte isso falo de existir
ganhar uns carcanhóis
com a arte de escribir
comer uns caracóis com o dinheiro arranjado
fumar uns cigarróis
beber cá umas coisas
e de artes só há duas.
Sub-reptilmente
ou existencialmente ainda continuar.
Existentivamente.
Comer.
Beber.
Escrever.
Mais umas mulheres nuas.
António Gancho