Hoje, um homem aproximou-se de mim. Vestia fato e usava gravata, mas eu reconheci-o de imediato.
Era um homem do Instituto. Estava disfarçado de pessoa normal.
Perguntou-me as horas e eu disse: Tenho dois trovões dentro dum envelope dos correios.
O da esquerda é de madeira e o do meio é fêmea.
É assim que nascem as cartas.
Ele, surpreendido com a minha resposta,
foi-se embora e não me internou.
Mas, por via das dúvidas, fui para casa com os sapatos calçados nas mãos.
O livro do ano,
Afonso Cruz
Alfaguara