Ao Espelho

Exponho as mãos - e o teu sorriso, figura, é hábil.
Coloco uma flor de pólvora sob o esterno - e agita os
membros, inquieto, descendo na memória, procurando um
lugar para a paixão no enovelado das palavras que te
ocorrem.
Vou modificando a coloração dos olhos, alterando os países 
onde simultaneamente vivo; entretanto, nada te fixa ou prende
moves-te, subtil, nas imagens que espontaneamente se vão
acastelando na difusão do cérebro.
A audácia, inconsequente, ambígua, que usas como
máscara - irá consumar-se num fogo do qual te julgas 
distante, 
que não poderão recusar; e te dará o único momento de
amor verdadeiro - frente ao que não existe a possibilidade 
de dúvida; tem a palavra que o designa cinco letras
negras; soa asperamente; a sua música é a do

 
                                      Momento Absoluto.

 
                                                                                      1962
 


Manuel de Castro