«às vezes isso acontece...»*
e eu sinto paz.
*palavras tuas.
A casa da neblina
Entraram para a casa da neblina.
Os seus olhos foram-se acostumando
aos contornos indefinidos. Tudo
era impreciso, tudo era difuso.
Também se iam vendo um ao outro
sem contrastes, os rostos não mudavam,
as expressões eram sempre as mesmas,
sempre veladas pela mesma bruma.
Esqueceram-se ambos do mundo lá fora,
e da luz e da dor e da alegria,
da mentira, da emoção, dos beijos,
da amizade e do amor. Negaram
qualquer verdade ou perfil que os ferisse.
E ficou-lhes ambíguo o coração.
Amalia Bautista
Estou Ausente,
Averno
«que me reflectem matéria quando me sinto poeira...»
Brindo aos amigos
(Aos de ontem e aos de agora, aos de todos os dias, aos de todos os anos, aos de vez em quando, aos de sempre)
Brindo aos amigos
Que se metem pelas trilhas que anuncio num beijo
Que espantam os silvedos que são só fogo de vista
E avançam até às fontes de onde me brotam
Passos de dança e berlindes
Bandeiras de punhos cerrados
Búzios com cânticos sagrados
Esquecidas agulhas de grafonolas
Cavernosas tosses tuberculosas
Brindo aos amigos
Que não reclamam harmonia para além desta cacofonia que me habita
Que me reflectem matéria quando me sinto poeira
Que me revolvem brasas quando me sinto cinzas
E me fazem.
Lençol de noite de núpcias
Que orgulhosamente não se exibe mas enverga.
Joana Patrício