Myra

De facto, no quarto de D. Mafalda, vinha vindo uma manhã pardacenta, augúrio da estação das temperaturas menos baixas, mas melancólico. Um anúncio de primavera cinérea. Baço, como já era baça a conversação, tão distante das asas ternas do desejo. A pequeníssima labareda do ciúme, nada atiçava naqueles dois. Nem a beleza parda que se acendia naqueles largos espaços lá fora. Nenhuma alegria no primeiro roçagar das aves e dos regos de água. A desmedida tristeza dos amantes que não se amam, a que contamina paisagens que ficam sem exultação, sem descrição possível. O mundo acaba, ou não nasce, o amor.
— Maria Velho da Costa, «Myra». Assírio & Alvim.