etapas.

já andava para escrever sobre isto há meses. é difícil escrever quando mal temos tempo para aterrar, pôr os pés no chão e dizer com firmeza "isto está a acontecer", porque me parece que, às vezes, ainda vivo como se num sonho, a flutuar, sem tocar com os pés no chão.
não sei dizer como cheguei aqui, porque apesar do peso das decisões e responsabilidades que caíram mais tarde, me parece que enfrentei tudo isto com uma leveza de quem faz as coisas muito mais com o coração do que com a razão - nota: ajuda ter alguém 'mais cabeça' para não nos estatelarmos.
não há decisões certas, ou erradas. há decisões, ponto. que todas as decisões que tomamos ao longo da nossa vida são as decisões que tinham de ser tomadas, são o caminho que tínhamos de percorrer. se correu mal foi porque assim tinha de correr. quando aceitamos isto, somos finalmente livres. não me arrependo de nada do que vivi até hoje, incluo, com gosto, tudo o que até aqui correu mal, tudo o que até aqui me fez chorar. aceito-as de braços abertos porque são parte de mim, parte do que sou hoje. foram o caminho, o meu caminho, o caminho que eu própria construí. não há culpas a terceiros. tinha de ser assim. 
mudar-me para Sines foi como começar um novo livro. um livro cheio de páginas em branco à espera de serem rabiscadas com todas as cores quantas conseguisse arranjar. 
quando se faz as coisas com o coração não temos dúvidas e tudo se encaixa em harmonia à nossa volta. notei, com espanto, que os rostos das pessoas me pareciam todos estranhamente familiares, como se pertencesse aqui, desde sempre. os sítios, os lugares, tudo dizia "aqui" e fui-me deixando embalar nesta familiaridade do "sempre". meses mais tarde, tudo se foi tornando do agora, do dia-a-dia, da rotina. começamos a cruzar os mesmos rostos e os mesmos sítios, e constatamos, com alguma surpresa, que não são nossos. É a nossa casa, mas... e os 27 anos para trás? e a mãe? e o pai? o Tinho? e aquele cantinho que era como um forte onde nada nos podia atingir? que é do porto seguro? que é das tachadas da Ana que tanto traziam de amor? que é dos jantares dos meus rostos, dos meus sorrisos... que é do meu Teatro? que é do chalé de tantos almoços com o A. em Carcavelos? 
passo metade dos meus dias a revisitar a memória, porque a saudade amachuca. 
e sou tão feliz aqui!
queria que os meus braços crescessem tanto que conseguisse trazer-vos a todos para a minha paisagem. esta paisagem que é tão minha, tanto como não, que é através dos olhos e do coração do André que me sinto tão em casa. estou finalmente a crescer com as minhas pernas e com o coração. a descobrir uma nova Inês nesta "tão" nova etapa.

hoje vou dançar a vida. e sei que é mais uma etapa que se inicia no meio destas vidas que fui construindo. hoje sou mais eu. e este post é um grito lançado ao mar.

CHEGUEI.
e estou AQUI.