Os sons misturam-se no ar e é como se ouvisse uma melodia antiga. Este sítio já foi um dos meus. Lembro-me, quando as pernas eram demasiado curtas, quando os pés, pendurados da cadeira, não tocavam o chão. Daqui, já sentia o cheiro a Melides.
Lembro, com uma alegria inocente de quem não espera mais do que um cheiro, os pinheiros, os eucaliptos, a chegada ao parque de campismo, a areia nos pés, o mar ao longe.
Este é o meu sítio. Este sempre foi o meu sítio.
Da costela alentejana que me deixaste, ficou-me a infância e um futuro sonhado, pintado de impossíveis. Agora, com um carro cheio de louça e quinquilharia, sorrio e o coração bate tanto que parece querer saltar cá para fora. Hoje, o meu futuro sonhado é o meu presente.
Fazes anos e eu sinto uma vontade imensa de te abraçar, de te agradecer por me teres dado o teu sangue, a tua terra.
Descalço-me, volto a sentir a areia nos pés, deixo-te uma rosa.
Parabéns, Avô Espada.