Deixei-me ficar na cama, uma perna para cada lado, o edredon pendurado e as almofadas espalhadas pelo quarto. É sábado e eu queria levantar-me cedo para aproveitar o sol, mas ele tinha-se escondido e eu resignei-me.
Levantei-me, ainda assim, pus doce de morango num croissant e aqueci um café com leite. Trouxe tudo para cima, recolhi uns quantos livros, um bloco de notas e o computador e espalhei tudo pela cama. Abri as janelas para escutar melhor o dia lá fora e fiquei ali especada, num vazio tão cheio de vida.
Peguei no telemóvel mais vezes do que ficaria bonito admitir, falei com pessoas, inspirei-me, pensei a minha vida, o meu futuro, os meus sonhos, tive vontade de escrever mas nada me parecia tão importante que justificasse ocupar uma folha branca, então deixei-me ficar a olhar o tecto enquanto ouvia a vida lá fora e seguia, com o olhar, uma mosca que entrara. Não sei quanto tempo passou, estávamos as duas vivas, eu a sentir-me inútil deitada na cama e ela no seu voo meio nervoso sobre mim, mas estávamos aqui. E este pensamento foi tão avassalador que tive vontade de chorar.