«existe uma rapariga...»


existe uma rapariga
que sorri como um farol
e guarda pacotes de açúcar
em gavetas do coração
e move-se por entre os livros
como um bando de pardais
na ganância das migalhas
e tem dois braços que partem 
da sua enorme alegria
em direcção ao mundo
e com eles celebra
a descoberta do sol
no amor com que se entrega
a quem se aproxima dela.

e apesar de toda a escuridão:
ela brilha.


Pedro Lúcio
Dezembro, 2008

Acabara de fazer 23 anos e foi a prenda mais bonita que me deram. 
Um poema escrito para mim, de um amigo livreiro que soube sempre acertar na mouche. 

Note to Self #9



Segui o discorrer da rebuscada lógica, complexas teorias da conspiração que no seu enredo teciam guerras, tácticas, dissimulações, inimigos, em suma, alvos a abater, se ao alcance do tiro estivessem ou arma existisse que a eles se pudesse apontar. No fim, mais do que refutar, ocorreu-me apenas dizer: o mais difícil é perceber que a falta de crença nos outros atinge-nos sobretudo a nós. Somos nós que nos perdemos dos outros. Somos nós que sofremos a dor de nos faltarem. Nada disse, no entanto. No lugar onde escutavas, não o poderias ouvir.

Jorge Roque
uma escada que sobe pelos degraus de ti
cão celeste #2
outubro, 2012