'his' e 'es'.

pode não fazer sentido. pode ser até, com toda a certeza, daquelas coisas que nos acontecem apenas para serem sentidas, porque se tornam impossíveis de partilhar. tenho tido a sorte de cruzar pessoas excepcionais na minha vida.
pequena vida.
minúscula vida.
e mais do que pessoas luminosas, corações luminosos, sorrisos de muita luz. 
trabalhar num sítio com uma porta aberta tem sido um bom veículo e teria mil e uma histórias para partilhar... como aquele senhor com quem tinha, exactamente, uma diferença de 60 anos de idade, casado com uma espanhola que fugira de casa, por ele. e então, um viúvo feliz por ter tido o privilégio de uma vida tão cheia de amor. nunca falámos do presente, mas o seu passado era um livro que me lia com gosto e que eu absorvia de olhos e coração abertos, ainda hoje lhe lembro o sorriso, o abraço apertado e o tão característico adeus, por baixo de um chapéu de feltro. 
ou, mais recentemente, o senhor com um sorriso azul-de-olhos que me apertou a mão com força e, debaixo de um bigode me disse: "quando casar, quero ir ao seu casamento, quero que case como eu casei, por muito tempo e com muito amor".
e hoje, a senhora de descendência alemã que nasceu espanhola. que casou na Alemanha e morou entre lá e Portugal por vários anos. falámos de tudo e de nada e deixámos um chá marcado para antes do seu regresso, agora definitivo, à Alemanha.

eu disse que poderiam parecer coisas sem sentido, quando partilhadas, mas enche tanto o coração cruzar pessoas de vidas tão cheias e a transbordar de 'his' e estórias. 

por tudo isto e mais, bolas... sou tão feliz!

das leituras enroladas.

ando há dias com "a desumanização" na mala. terminei a última leitura - "A Minha Pequena Livraria" de Wendy Welch. Ed. noites brancas - e ando a ganhar coragem para esventrar o valter. perdão, o do valter. Ler apetece sempre, pior são os dias em que enrolamos leituras, e há razões mais legítimas do que outras para o fazer. não, nada tem a ver com a polémica que se levantou em torno de uma entrevista do autor. não a vou pronunciar. tem a ver com o arrebatamento que os livros do valter hugo mãe trazem consigo. e este já vem com carga emocional de leituras partilhadas.
respiro fundo umas quantas vezes enquanto lhe olho a capa de soslaio. passo a mão pelo objecto-livro e o meu coração já está acelerado sem chegar ao primeiro parágrafo. é mais ou menos assim o ritual do começo de um livro. é uma espécie de religião. 
é saber que depois disto, não somos os mesmos.