(Antonio Gamoneda)
Atravessamos o jardim,
e, sob os nossos passos,
a neve estala como pão acabado de fazer.
Tudo tem a cor da palavra
que ainda não foi escrita.
É a hora.
Abraçados no meio do silêncio
parecemos dois anjos de barro.
Não importa se te digo "não voltes tarde a casa",
da necessidade daquele que fica
não depende o reencontro.
Abro o gradeamento.
A sensação de perda gira dentro de mim
como um cão que ladra e que dá voltas
em redor de uma árvore.
Não importa se te digo para ficares.
A neve desnasce-se,
mostrando a fugacidade da beleza:
(amo-te porque sim, não para que o tempo
venha a ser mais benévolo comigo).
O sol reconcilia-nos com a morte.
É a hora.
O relógio dos pássaros serve de tecto ao dia.
Josep M. Rodríguez