«trinca-espinhas»,
não sabes a falta que nos fazes.
às vezes apetece-me gritar-te "porque raio nos deixaste aqui, sem ti?"
travo-me ainda antes de abrir a boca. envergonho-me. como poderia gritar-te? a ti?
foi injusto. foi injusto para nós, tu estavas pronto. não querias, mas estavas pronto.
e foste, abriste a porta e foste. e lembro-me de cada instante desse dia. e da dor que ainda dói como se ainda. como se sempre, porque isto é dor que não sara nunca.
onde estás no meu amanhã?
sinto (tanto) a falta de agarrar a tua mão, avô.
tenho medo de te esquecer. de te lembrar apenas de fotografias, de vídeos antigos.
tenho medo de esquecer o teu sorriso, a forma como nos olhavas, o teu andar.
esquecer de como adoravas caramelos e rebuçados de fruta, de como nunca faltavam pacotes lá em casa, e como os ias buscar às escondidas quando sabias que não devias. Porque tudo o que nos restam são memórias... memórias que se atraiçoam com o correr do tempo.